15 de agosto Assunção de Nossa Senhora e dia de Nossa Senhora da Boa Morte
A
devoção à Nossa Senhora da Boa Morte chegou aos cristãos do Ocidente,
através da tradição cristã do Oriente, sob o título de "Dormição da
Assunta". Talvez, esse seja o culto mariano mais antigo, iniciado logo
nos primeiros séculos do cristianismo.
A última metade do século
V foi marcada pela propagação de uma literatura apócrifa, isto é,
escrita na época dos fatos, mas não incluída na Bíblia, sobre a morte e
assunção da Virgem; e a construção de uma Basílica para venerar o túmulo
da Mãe de Deus, por ordem da imperatriz Eudóxia. Isso acabou provocando
a mudança do conteúdo temático do culto de 15 de agosto, para a
"Dormição da Assunta", já no início do século VI.
Os escritos
apócrifos revelavam que, a Virgem Maria teria entrado em "Dormição",
isto é, entrado no sono da morte rodeada pelos apóstolos. O seu corpo
imaculado foi levado por eles a um sepulcro novo no Getsêmani. Três dias
depois, eles voltaram ao local e o encontraram vazio e com odor de
flores. A Mãe fôra "Assunta", isto é, subira ao céu em corpo e alma.
No
século VII, o imperador Maurício prescreveu que essa festa mariana
fosse celebrada em todos os seus domínios, como uma das mais
importantes. E finalmente, o Papa Sérgio I a introduziu na liturgia de
Roma. Desse modo, o culto "Dormição da Assunta" ou "Dormição da Mãe de
Deus" alcançou toda a Igreja, do Oriente e do Ocidente.
A Igreja
do Oriente, se dedicou ao culto da devoção da Mãe de Deus, até por ser a
mais primitiva. Muitas igrejas cobertas de ícones sagrados foram
erguidas em todos as regiões, nesse período bizantino. Os lugares
sagrados, marcados pelos acontecimentos da Revelação do Mistério de
Deus, foram guardados dentro de magníficos templos cobertos de ícones.
Os ícones não foram feitos para adornar o templo, são pinturas que
representam os símbolos sagrados da Igreja e descrevem o Evangelho.
Assim, uma grande profusão de ícones invadiu a Igreja do Ocidente,
especialmente os da Mãe de Deus.
A Virgem Santíssima, além de
ser invocada e representada em "Dormição", foi chamada de "Assunta",
como seu filho foi elevada ao céu, pelo mérito de Cristo, obtendo a
Redenção corpórea. Venerar a Boa Morte de Nossa Senhora sempre foi uma
grande festa, para os cristãos. Ela é a primissa da glorificação do
corpo e da alma, assegurada por Cristo no final dos tempos.
Antigamente
o culto iniciava na véspera, com a deposição da imagem da Virgem
"dormente", num esquife e ficava exposta à visita dos fiéis até a manhã
da festa, quando era retirada e colocada a imagem triunfal de Nossa
Senhora da Assunção. Em algumas localidades essa tradição se manteve,
inclusive nas Américas que herdou o culto dos missionários espanhóis e
portugueses.
O dogma da Assunção de Maria só foi proclamado pelo
Papa Pio XII em 1950, como conseqüência lógica de intensos estudos
históricos e teológicos patrocinados pela Igreja ao longo desses
séculos. Ele só fez coroar uma fé sempre professada universalmente por
todo o Povo de Deus..
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A Assunção Gloriosa de Nossa Senhora
Equipe Lepanto| 15 de agosto de 2012
Texto de apologética provando a assunção de Nossa Senhora aos céus, de corpo e alma.
A Assunção de Nossa Senhora foi transmitida pela tradição escrita e
oral da Igreja. Ela não se encontra explicitamente na Sagrada Escritura,
mas está implícita.
Os protestantes acreditam que a Mãe de Deus, apesar de ter sido o Tabernáculo vivo
da divindade, devia conhecer a podridão do túmulo, a voracidade dos
vermes, o esquecimento da morte, o aniquilamento de sua pessoa.
Vamos analisar o fato histórico, segundo é contato pelos primeiros cristãos e transmitido pelos séculos de forma inconteste.
Na ocasião de Pentecostes, Maria
Santíssima tinha mais ou menos 47 anos de idade. Depois desse fato,
permaneceu Ela ainda 25 anos na terra, para educar e formar, por assim
dizer, a Igreja nascente, como outrora ela educara, protegera, e
dirigira a infância do Filho de Deus.
Ela terminou sua “carreira mortal” na idade de 72 anos, conforme a opinião mais comum.
A morte de Nossa Senhora foi suave, chamada de “dormição”.
Quis Nosso Senhor dar esta suprema consolação à sua Mãe Santíssima e
aos seus apóstolos e discípulos que assistiram a “dormição” de Nossa
Senhora, entre os quais se sobressai S. Dionísio Aeropagita, discípulo
de S. Paulo e primeiro Bispo de Paris, o qual nos conservou a narração
desse fato.
Diversos Santos
Padres da Igreja contam que os Apóstolos foram milagrosamente levados
para Jerusalém na noite que precedera o desenlace da Bem-aventurada
Virgem Maria.
S. João
Damasceno, um dos mais ilustres doutores da Igreja Oriental, refere que
os fiéis de Jerusalém, ao terem notícia do falecimento de sua Mãe
querida, como a chamavam, vieram em multidão prestar-lhe as últimas
homenagens e que logo se multiplicaram os milagres em redor da relíquia
sagrada de seu corpo.
Três dias depois chegou o Apóstolo S. Tomé, que a Providência divina
parecia ter afastado, para melhor manifestar a glória de Nossa Senhora,
como dele já se servira para manifestar o fato da ressurreição de Nosso Senhor.
S. Tomé pediu para ver o corpo de Nossa Senhora.
Quando retiraram a pedra, o corpo já não mais se encontrava.
Do túmulo se exalava um perfume de suavidade celestial!
Como o seu Filho e pela virtude de seu Filho, a Virgem Santa
ressuscitara ao terceiro dia. Os anjos retiraram o seu corpo imaculado e
o transportaram ao céu, onde ele goza de uma glória inefável.
Nada é mais autêntico do que estas antigas tradições da Igreja sobre o
mistério da Assunção da Mãe de Deus, encontradas nos escritos dos
Santos Padres e Doutores da Igreja, dos primeiros séculos, e relatadas
no Concílio geral de Calcedônia, em 451.
Como Nossa Senhora era isenta do ‘pecado original’, ela estava imune à
sentença de morte (conseqüência da expulsão do paraíso terrestre).
Todavia, por não ter acesso à “árvore da vida” (que ficava no paraíso
terrestre), Maria Santíssima teria que passar por uma “morte suave” ou
uma “dormição”.
Por um privilégio especial de Deus, acredita-se que Nossa Senhora não
precisaria morrer se assim o desejasse, ainda que não tivesse acesso à
“árvore da vida”.
Tudo isso, é claro, ainda poderá ser melhor explicado com o tempo,
quando a Igreja for explicitando certos mistérios relativos à Santíssima
Virgem Maria que até hoje permanecem.
Muito pouco ainda descobrimos sobre a grandeza de Nossa Senhora, como bem disse S. Luiz Maria G. de Montfort em seu livro “Tratado da Verdadeira Devoção à Santíssima Virgem“.
É certo que Nossa Senhora escolheu passar pela morte, mesmo não tendo necessidade.
Quais foram, então, as razões da escolha da morte por Nossa Senhora?
Pode-se levantar várias hipóteses. O Pe. Júlio Maria (da década de 40) assinala quatro:
1) Para refutar, de antemão, a heresia dos que mais tarde
pretenderiam que Maria Santíssima não tivesse sido uma simples criatura
como nós, mas pertencesse à natureza angélica.
2) Para em tudo se assemelhar ao seu divino Filho.
3) Para não perder os merecimentos de aceitação resignada da morte.
4) Para nos servir de modelo e ensinar a bem morrer.
Podemos, pois, resumir esta doutrina dizendo que Deus criou o homem
mortal. Deus deu a Maria Santíssima não o direito (por não ter acesso à
“Árvore da vida”), mas o privilégio, de ser imortal. Ela preferiu ser
semelhante ao seu Filho, escolhendo voluntariamente a morte, e não a
padecendo como castigo do pecado original que nunca tivera.
Analisemos, agora, a Ressurreição de Maria Santíssima.
Os Apóstolos, ao abrirem o túmulo da Mãe de Deus para satisfazer a
piedade de São Tomé e ao desejo deles todos, não encontrando mais ali o
corpo de Nossa Senhora, deduziram e perceberam que Ela havia
ressuscitado!
Não era preciso ver à ressurreição para crer no fato, era uma dedução
lógica decorrente das circunstâncias celestiais de sua morte, de sua
santidade, da dignidade de Mãe de Deus, da sua Imaculada Conceição, da
sua união com o Redentor, tudo isso constituía uma prova irrefutável da
Assunção de Nossa Senhora.
A Assunção difere da ascensão de Nosso Senhor no fato de que, no
segundo caso, Nosso Senhor subiu por seu próprio poder, enquanto sua Mãe
foi assunta ao Céu pelo poder de Deus.
Ora, há vários argumentos racionais em favor da Assunção de Nossa
Senhora. Primeiramente, havendo entrado de modo sobrenatural nesta vida,
seria normal que saísse de forma sobrenatural, esse é um princípio de
harmonia nos atos de Deus. Se Deus a quis privilegiar com a Imaculada Conceição, tanto mais normal seria completar o ato na morte gloriosa.
Depois, a morte, como diz o ditado latino: “Talis vita, finis ita“, é um eco da vida. Se Deus guardou vários santos da podridão do túmulo, tornando os seus corpos incorruptos,
muito mais deveria ter feito pelo corpo que o guardou durante nove
meses, pela pele que o revestiu em sua natureza humana, etc.
Nosso Senhor tomou a humanidade do corpo de sua Mãe. Sua carne era a
carne de sua Mãe, seu sangue era o sangue de sua Mãe, etc. Como permitir
que sua carne, presente na carne de sua santíssima Mãe, fosse
corrompida pelos vermes e tragada pela terra? Ele que nasceu das
entranhas amorosíssimas de Maria Santíssima permitiria que essas mesmas
entranhas sofressem a podridão do túmulo e o esquecimento da morte?
Seria tentar contra o amor filial mais perfeito que a terra já conheceu.
Seria romper com o quarto mandamento da Lei de Deus, que estabelece “Honrar Pai e Mãe“.
Qual filho, podendo, não preservaria sua Mãe da morte?
A dignidade de Filho de Deus feito homem exigia que não deixasse no
túmulo Aquela de quem recebera o seu Corpo sagrado. Nosso Senhor Jesus Cristo, por assim dizer, preservando o corpo de Maria Santíssima, preservava a sua própria carne.
Ainda podemos levantar o argumento da relação imediata da paixão
do Filho de Deus e da compaixão da Mãe de Deus, promulgada, de modo
enérgico, no Evangelho, pela profecia de S. Simeão falando à própria
Mãe: “Eis que este menino está posto para a ressurreição de muitos
em Israel, e para ser alvo de contradição. E uma espada transpassará a
tua alma” (Luc. 2, 34, 45).
Esta tradução em vernáculo (português, no caso) é larga. O texto
latino (em latim) tem uma variante que parece ir além do texto em
português. “Et tuam ipsius animam pertransibit glaudius” – o que quer dizer literalmente: o mesmo gládio transpassará a alma dele e a vossa.
Como seria possível que o Filho, tendo sido unido à sua Mãe em toda a
sua vida, na sua infância e na sua dor, não se unisse à Ela na sua
glória?
Tudo isso se levanta dos Evangelhos.
A Assunção de Maria Santíssima foi sempre ensinada em todas as
escolas de teologia e não há voz discordante entre os Doutores. A
Assunção é como uma conseqüência da encarnação do Verbo.
Se a Virgem Imaculada recebeu outrora o Salvador Jesus Cristo, é
justo que o Salvador, por sua vez, a receba. Não tendo Nosso Senhor
desdenhado descer ao seu seio puríssimo, deve elevá-la agora, para
partilhar com Ela a sua glória.
Cristo recebeu sua vida terrena das mãos de Maria Santíssima. Natural
é que Ela receba a Vida Eterna das mãos de seu divino Filho.
Além de conservar a harmonia em sua própria obra, Deus devia
continuar favorecendo a Virgem Imaculada, como Ele o fez, desde a
predestinação até a hora de sua morte.
Ora, podendo preservar da corrupção do túmulo a sua santa Mãe, tendo
poder para fazê-la ressuscitar e para levá-la ao céu em corpo e alma,
Deus devia fazê-lo, pois Ele devia coroar na glória aquela que já
coroara na terra… Dessa forma, a Santíssima Mãe de Deus continuava a
ser, na glória eterna, o que já fora na terra: “a mãe de Deus e a mãe dos homens“.
Tal se nos mostra Maria na glória celestial, como cantava o Rei de sua Mãe, assim canta Deus de Nossa Senhora: “Sentada à direita de seu Filho querido” (3 Reis, 2, 19), “revestida do sol” (Apoc. 12, 1), cercada de glória “como a glória do Filho único de Deus”
(Jo. 1, 14), pois é a mesma glória que envolve o Filho e a Mãe! Ele nos
aparece tão belo! E ela como se nos apresenta suave e terna em seu
sorriso de Mãe, estendendo-nos os braços, num convite amoroso, para que
vamos a Ela e possamos um dia partilhar de sua bem-aventurança!
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Segue mais um texto. Atentem que celebramos a "assunção" de Nossa Senhora
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O DOGMA DA ASSUNÇÃO DE MARIA
Prof. Paulo Cristiano
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Publicado em : |
Segunda, 30/04/2007 |
I. Explicação e História
A
Igreja Católica Romana crê e ensina que Maria, a mãe de nosso Senhor,
subiu ao céu em corpo e alma. Sob o titulo de Assunção, os católicos
romanos celebram três festas em honra a Maria: uma é a do trânsito de
sua alma, sem o corpo, ao céu; outra é quando pouco depois se juntou e
se reuniu a mesma alma com o corpo, e com inefável glória subiu ao céu; a
terceira é de sua coroação como Rainha dos anjos e Senhora do universo.
O imperador grego Mauricio (582-602) ordenou que a festa fosse
celebrada em 15 de agosto, o que se faz até nossos dias, e por esse
mesmo tempo também o Papa Gregório, o Grande, fixou a mesma data para o
Oeste, onde anteriormente, por razoes desconhecidas, celebrava-se a
festa em 18 de janeiro. A palavra "ASSUNÇÃO", que em um tempo se
aplicava geralmente à morte dos santos, especialmente de mártires, e a
sua entrada no céu, chegou a aplicar-se agora exclusivamente a Maria, e
isso a distingue do termo "ascensão" no sentido de que esta é aplicada
unicamente a Jesus Cristo, que ascendeu por seu próprio poder ao céu,
enquanto a assunção significa que Maria foi levada por seu Filho ao céu.
Esta
crença é uma derivação do dogma da perpétua virgindade e da imaculada
conceição de Maria, e marca um passo mais na tendência romanista à
exaltação de Maria como objeto de culto religioso. Antes de sua
definição oficial, o Papa Pio XII havia consultado todos os bispos
católicos do mundo, na Carta Apostólica "Deiparae Virginis", em 1 de
maio de 1946, sobre a conveniência e possibilidade de declarar como
dogma a crença na Assunção de Maria. A resposta do episcopado foi
favorável à idéia da proclamação. E, com efeito, a 1 de novembro de
1950, o Papa Pio XII, na Constituição Apostólica "Munificentissimus
Deus", fez o seguinte pronunciamento: "Nós pronunciamos, declaramos e
definimos que é um dogma revelado por Deus, no qual a Imaculada Mãe de
Deus, a sempre Virgem Maria, foi levada aos céus em corpo e alma quando
terminou o curso de sua vida na terra."
II. Defesa do Dogma
Afirma-se
que este novo dogma foi revelado por Deus, mas não se dão as razões
bíblicas do caso. Os apologistas do dogma, no entanto, citam um ou outro
versículo isolado das Escrituras, os quais, segundo eles, aludem
indiretamente à conveniência da Assunção e glorificação de Maria.
Naturalmente, os mesmos versículos que usam para provar a imaculada
Conceição (Gên. 3:15; Luc. 1:28) são empregados também para deduzir
deles a necessidade da Assunção. Salmos 16:10; 45:9 e João 12:26,
trazidos ao caso, em correta exegese, jamais poderão ser tomados como
apoio à Assunção de Maria, já que eles claramente se referem, em sua
ordem, à ressurreição de Jesus Cristo, à Igreja como a esposa de Cristo e
aos crentes em geral.
1. A Tradição
Mas é na
tradição, propriamente, onde se pretende basear esta crença,
argumentando-se que por ser dita tradição antiga e unânime na Igreja
Primitiva, a mesma deve ter sido originada dos apóstolos. Mas quando se
faz uma análise séria de tal posição, se descobre que não foi senão até o
século VI que apareceram os primeiros indícios de que se comemorava a
morte de Maria e começava a celebrar-se a festa da Assunção.
A
lenda da Assunção é mencionada pela primeira vez nos fins do século IV
em vários escritos apócrifos, como "La Dormición de Maria y El Trânsito
de Maria", os quais foram expressamente condenados como apócrifos e
heréticos pelo Papa Gelásio no index expurgatorious em princípios do
século VI. Foi Gregório de Tours (594 d. C.) o primeiro escritor
ortodoxo que os aceitou como autênticos, e, tempos depois, no século
VIII, João Damasceno apresentou a Assunção como uma doutrina de antiga
tradição católica. No entanto, Benedito XIV declarou, em 1840, que a
tradição era insuficiente como doutrina, pois não tinha classe
necessária para ser elevada ao nível de artigo de fé.(l)
2. Relato de como Foi a Assunção
As
várias tradições a que se recorre contêm marcadas discrepâncias entre
si. "Sabido é que há duas tradições, uma favorável à morte de Maria, a
outra favorável à sua imortalidade." (2) "A opinião mais comum ensina
que Maria ressuscitou ao terceiro dia, como Jesus Cristo; no entanto,
alguns dizem que ressuscitou quinze dias depois de sua morte, e outros,
quarenta."(3) Nestes relatos há detalhes fantásticos, episódios
inverossímeis e até suposições pueris que não se coadunam com o teor
sério e autêntico dos Evangelhos canônicos.
Segundo essas
tradições, a mãe de nosso Salvador, sendo já uma anciã e cansada de
viver neste mundo, suplicou a seu Filho no céu que a levasse o quanto
antes para estar com ele. Jesus então enviou-lhe um anjo para que lhe
anunciasse sua morte, nova que Maria recebeu com imenso júbilo, mandando
arrumar muitas velas e enfeitar o aposento. Para estar presente no
momento da morte de Maria, todos os apóstolos, com excessão de Tomé,
marcaram encontro em Belém, onde ela morava. João veio da cidade de
Éfeso, cavalgando em uma nuvem, e do mesmo modo viajaram os demais
apóstolos desde os diferentes países em que se encontravam pregando.
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(1) Opera, VoI. X, p. 499, ed. 1851.
(2) P. Parente, Dlcclonario de Teologia Dogmática, p. 38.
(3)
Consultor dei Clero, p. 441. Fizeram-se também presentes Hieróteo,
Timóteo e Dionisio, o Areopagita, levando todos eles muitas velas,
ungüentos perfumados e espécies aromáticas.
Ante a ameaça de ser
assaltada por adversários judeus a casa onde eles estavam, Maria e os
apóstolos são transportados outra vez em uma nuvem a casa dela em
Jerusalém. Ali suscitaram-se diálogos, e ela os consola e os abençoa,
dizendo: "Ficai com Deus, filhos meus mui amados; não choreis porque os
deixo, e, sim, alegrai-vos, porque vou para meu Querido." (1) Logo,
apresentando seu testamento, recomendou a João, o Evangelista, que
repartisse duas túnicas suas para duas jovens que a haviam servido e
acompanhado por muitos anos. Chegando o momento de sua morte, ela se
recostou em sua cama, enquanto os apóstolos, de joelhos e em pranto e
pesar, a beijavam e se despediam. Anjos do céu começaram a chegar e
depois Jesus Cristo mesmo, descendo em outra nuvem e rodeado de seres
angelicais, apareceu perante sua mãe e, em meio de uma luz deslumbrante e
de doces harmonias celestiais, levou a alma de Maria ao céu (em uma
variante, Jesus põe a alma dela nas mãos do anjo Gabriel, para que este a
leve). Assim foi a morte de Maria, e seu cadáver não se corrompeu,
desprendendo delicadíssimos perfumes.
Depois os apóstolos
conduziram o corpo exânime de Maria em maca, e deram-lhe honrosa
sepultura no vale de Josafá. Sua morte, acontecida quando tinha setenta e
dois anos de idade, viu-se acompanhada de muitos milagres, como cura de
enfermos, etc. Ao terceiro dia de sepultada, chega Tomé, montado em uma
nuvem, e, por engano, desce no Monte das Oliveiras, mas nesse mesmo
instante observa o maravilhoso espetáculo do trânsito de Maria aos céus,
em corpo e alma, levada por seu Filho Jesus e circundada das hostes
celestiais. Logo Tomé procura os outros apóstolos e lhes dá a nova da
Assunção, mas eles se mostram cépticos e argumentaram que eles mesmos
haviam enterrado Maria. A instância de Tomé vão ao sepulcro e descobrem
que este está vazio, o que os convence da ressurreição e assunção de
Maria ao céu.
3. São Afonso Maria de Ligório e a Assunção
A
viagem de Maria através das esferas siderais e sua entrada na glória
são descritas em altos vôos imaginários e com frases ao extremo
pitorescas e lisonjeiras pelos panegiristas da Assunção. Por exemplo,
São Afonso Maria de Ligório, consumado assuncionista, expressa-se assim:
"Jesus a leva pela mão, e a Mãe, felicíssima, corta os ventos, passa as
nuvens, atravessa as altas esferas e chega às portas do céu. Ali os
anjos que a acompanham levantam a voz e, à semelhança do que disseram
quando o Senhor entrou triunfante de volta do desterro, repetiram agora
também aos que lá dentro a aguardavam: Abri, príncipes, essas portas e
levantai-vos, portas eternas, para que entre a Rainha da glória. No
mesmo instante abriram-se de parem par, e entrou vitoriosa na pátria
celestial, e, ao vê-la tão formosa, aqueles espiritos soberanos
perguntaram uns aos outros:"Quem é esta que chega do deserto, lugar de
espinhos e de abrolhos? Quem é esta que vem tão pura e cheia de
virtudes, sustentada em seu Amado e tão honrada dele?' E os anjos que a
acompanhavam respondiam: 'É a Mãe de nosso Rei, nossa Rainha, a bendita
entre todas as mulheres, a cheia de graça, a Santa dos Santos, a querida
de Deus, a Imaculada, a mais formosa de todas as criaturas." (1)
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(1) P. Pedro de Ribadeneira, Vida de ia Virgem Maria, p. 97.
Ao
referir-se a mesma obra, mais adiante, ao ato da coroação de Maria, diz
que, por seu turno, se aproximaram de Maria todos os santos, o apóstolo
Tiago, o Maior, os profetas, Zacarias e Isabel, São Joaquim e Santa
Ana, José e os santos anjos, e saudaram-na, felicitaram-na e
honraram-na, e que depois as três Pessoas da Santíssima Trindade a
coroaram, pondo em suas mãos o poder, a sabedoria e o amor e que ". .
.colocando seu trono ao lado da Santíssima Humanidade de Jesus Cristo, a
declararam Rainha do céu e da terra, mandando aos anjos e a todas as
criaturas que como tal a reconhecessem, obedecessem e servissem". (2)
III. Refutação
1. Os Pais e Doutores da Igreja
A
Assunção de Maria ao céu, de ser certa, seria um fato histórico, e como
tal deve ser examinado. Mas acontece que não há certeza quanto ao lugar
de sua morte, se foi em Éfeso ou em Jerusalém; não houve testemunhas de
seu trânsito ao céu, as tradições em que se baseia a doutrina se
contradizem, estão escritas em uma linguagem extravagante, contém
relatos inverossímeis; quanto à antiguidade, não chegam nem sequer ao
terceiro século. Os Pais e Doutores da Igreja não fizeram alusão a elas
nem falaram na Assunção durante os primeiros cinco séculos, o Papa
Gelásio condenou-as e o Papa Benedito XIV qualificou-as de testemunho
insuficiente, e, no entanto, é sobre esta obscura e débil tradição, sem
comprovação histórica nem apoio bíblico, que se levanta o "dogma
revelado" da Assunção.
2. Razões de Conveniência
As
chamadas razões teológicas ou de conveniência tampouco podem com
propriedade ser invocadas a favor deste dogma, pelo simples fato de que
Maria não foi divina nem sem pecado nem é co-redentora. A circunstância
de sua morte física, reconhecida pela mesma Igreja Católica Romana, é
uma prova incontrovertível de que Maria pertencia em todo sentido ao
gênero humano e que, como tal, ela participou do pecado de Adão e sofreu
a conseqüência universal do pecado original, que é a morte.
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(1) Las Giorias do Maria, p. 339.
(2) Ibid., p. 403.3. Silêncio do Novo Testamento
Mais
eloqüente, porém, é o silêncio absoluto que os escritores do Novo
Testamento guardam no tocante ao tema da Assunção. Silêncio que
implicitamente desvirtua o fundo histórico desta crença, pois é de todo
ponto de vista estranho e inexplicável que um acontecimento de tanta
transcendência, como o seria o da Assunção, houvesse passado inadvertido
para eles, e mais, tendo em conta o fato de que a ascensão de nosso
Senhor ao céu ficou plenamente testemunhada nos documentos escritos do
Novo Testamento.
Se a Assunção realmente aconteceu, que razões
importantes haveria para que os escritores dos livros do Novo Testamento
nem sequer a houvessem mencionado, ainda que fosse de passagem? Paulo,
por exemplo, em todas as suas cartas apostólicas, faz só uma menção a
Maria, e isto acidental e indiretamente, quando, falando da vinda de
Jesus ao mundo, diz que foi ((nascido de mulher" (Gál. 4:4), mas não
acrescenta nenhum detalhe que pudesse dar margem a essa suposta crença.
Pelo contrário, há uma passagem na qual, se fosse certa a Assunção,
Paulo teria feito alusão a ela. Falando da ressurreição futura dos
crentes, diz ele: ((Cada um, porém, na sua ordem: Cristo as primícias,
depois os que são de Cristo, na sua vinda" (1 Cor. 15:23). Como a tese
assuncionista afirma que Maria ressuscitou primeiro e ascendeu ao céu
depois, é lógico que Paulo teria feito menção dela neste versículo,
dizendo-nos que Maria, à semelhança de seu Filho Jesus, já havia
ressuscitado, O que claramente se depreende desta referência bíblica é
que Maria, assim como todos os crentes em Jesus Cristo cujos corpos
dormem no sepulcro, serão ressuscitados pelo poder de Deus quando soar a
trombeta final e o Senhor descer do céu à terra para arrebatar os seus.
4. Silêncio Impressionante de João
De
um modo particularíssimo, o silêncio do apóstolo João quanto a este
assunto constitui um desfavorável testemunho ,implícito, visto que, por
sua mui estreita associação com Maria, teria razão de sobra, e ainda
mais que qualquer outro, para haver-se referido, em seus escritos, ao
evento da Assunção; e oportunidade teve para havê-lo feito, pois, no
livro de Apocalipse, ele descreve suas visões do céu aberto, e, apesar
de ter visto a Jesus Cristo como o Rei da Glória e os anjos e as hostes
redimidas ao seu redor, não diz nada sobre ter visto Maria como Rainha
do céu e sentada em um trono ao lado de seu Filho Jesus. Também no
Evangelho que leva seu nome, cap. 3 e v. 13, João registra as palavras
que Jesus disse a Nicodemos: "Ora, ninguém subiu ao céu, senão o que
desceu do céu, o Filho do homem." Como o evangelista escreveu seu
Evangelho em fins do primeiro século, isto é, suficiente número de anos
depois da suposta Assunção de Maria ao céu, é de supor que, ao citar ele
a afirmação feita pelo Senhor, houvera incluído também uma referência
ao caso excepcional de Maria, tal como o faz no último capitulo (21
:20-23) do Evangelho, no qual, ao relatar a resposta que Jesus lhe dera à
pergunta de Pedro "e deste que será?", João acrescenta, muitos anos
depois do incidente e para proveito de seus leitores, a seguinte
declaração: "Jesus, porém, não disse que não morreria, mas: Se eu quiser
que ele fique até que eu venha, que tens tu com isso?"
5. A Carta aos Hebreus e a Assunção
Há,
porém, algo mais. A doutrina da glorificação e a mediação de Maria
aparece na teologia católica intimamente ligada à doutrina de sua
Assunção. Acontece que a Carta aos Hebreus, escrita também anos depois
do suposto trânsito de Maria ao céu, expõe com claridade meridiana a
doutrina do ministério de intercessão de Jesus Cristo no céu em favor de
seus filhos na terra, mas não há nem a mais leve alusão a que Maria
esteja desempenhando parecidas funções acima na glória. O escritor
sagrado expressa-se assim: "Tendo, portanto, um grande sumo sacerdote,
Jesus, Filho de Deus, que penetrou os céus, retenhamos firmemente a
nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa
compadecer-se das nossas fraquezas; porém, um que, como nós, em tudo foi
tentado, mas sem pecado. Cheguemo-nos, pois, confiadamente ao trono da
graça, para que recebamos misericórdia e achemos graça, a fim de sermos
socorridos no momento oportuno" (Heb. 4:14-16). Sendo que as Escrituras
nos foram dadas para nossa instrução e edificação (II Tim. 3:16,17), é
moralmente inconcebível que elas nos privassem não só do conhecimento,
senão também do consolo da mediação de Maria. A inferência do Novo
Testamento sobre o dogma da Assunção de Maria ao céu é uma prova mui
forte da falsidade histórica e doutrinal do mencionado dogma.
IV. O Concilio Vaticano II
No
Concílio Vaticano II, não se trouxe a debate o dogma da Assunção.
Simplesmente foi dado como aceito e confirmado, segundo as seguintes
palavras: "Finalmente, preservada livre de toda culpa de pecado
original, a Imaculada Virgem foi levada em corpo e alma à glória
celestial, ao terminar sua viagem terrenal. Ela foi exaltada pelo Senhor
como Rainha de todos, a fim de que pudesse ser mais completamente
configurada a seu Filho, o Senhor dos senhores (cf. Apoc. 19:16) e o
conquistador do pecado e da morte."(l)
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(1) Walter M. Abbott, S.J., The Docum.nts of Vatlcan Ii (Guiid Press: New York), p. 90
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Presbitero
da Igreja Evangélica Assembléia de Deus, professor de religiões,
vice-presidente do CACP e escritor. * Cada autor é responsável pelo
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