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quarta-feira, 26 de março de 2014

DESPEDIDA A CADA UM DAQUELES QUE AMO....






Despedida (A cada um daqueles que amo)






Quando eu me for, que não me transforme em uma lágrima em teu rosto; mas na lembrança de um sorriso, em teu coração.

Se me amas, não me deixes ser a saudade que faz sofrer, e sim aquela que traz a sensação de companhia.

Acima de tudo, não te desesperes.

Pois, se é certo que a morte não existe, o teu desespero ecoará em mim onde eu estiver.

Não penses em mim como alguém que se foi.

Pensa, antes, que por algum tempo pude estar a teu lado e envolver-te em meu amor.

Pensa que sempre estarei presente.

Haverá um pouco de mim
na brisa que te acaricie,
no sol que te aqueça,
em todo aquele que vieres a amar.

Poupa-nos a inutilidade dos afagos póstumos.

Pois só poderás acariciar um corpo vazio; apenas a sensação do teu amor será capaz de afagar-me a alma.

Não deverás buscar o meu túmulo.

Pois ali não estarei, e não me poderás encontrar. É na tua lembrança e no teu coração que me encontrarás, sempre que de mim necessitares.

Conserva-me vivo.

Porque jamais morrerei em ti, a menos que o desejes. Assim como a rosa não morre, enquanto a roseira produzir um novo botão.

Não exaltes as minhas qualidades, nem diminuas os meus defeitos. Seria como se criasses uma imagem, para justificar o teu amor; como se te envergonhasses, por me amar como fui.

Guarda-me contigo.

Em tudo que te possa ter ensinado, ou que contigo possa ter aprendido. Nos sorrisos e lágrimas que repartimos, nas alegrias e tristezas que nos tenhamos provocado.

Assim, verás que nas menores coisas estarei presente.

E, como toda a vastidão do Universo é insuficiente para separar aqueles que se amam, dia virá em que de novo estarei a teu lado.

Então, descobrirás que jamais te deixei.








Fonte: O Árabe

quarta-feira, 19 de março de 2014

ORIGEM DAS COLÔNIAS ESPIRITUAIS:



Consta que a formação das Colônias Espirituais data de diferentes épocas. O Espírito André Luiz, ao decorrer de suas obras ditadas ao médium Francisco Cândido Xavier, refere-se a várias estações de repouso do Mundo Espiritual. Nosso Lar, por exemplo, foi fundado no século XVI, por portugueses distintos, desencarnados no Brasil. Ainda no mesmo Nosso Lar, há referências à Colônia Socorrista Moradia, como uma das mais antigas, ligada a zonas bem inferiores para atendimento à população do Umbral, assim denominada a região espiritual habitada por espíritos trevosos.

Outro exemplo é a Colônia Campo da Paz a que o Espírito André Luiz se reporta no livro Os Mensageiros, psicografado por Francisco Cândido Xavier. Segundo ele, esta é uma colônia bem próxima da Terra:

Alguns benfeitores, reconhecidos a Jesus, resolveram organizar, em nome dele, uma colônia em plena região inferior, que funcionasse como instituto de socorro imediato aos que são surpreendidos na Crosta com a morte física, em estado de ignorância ou de culpas dolorosas. O projeto mereceu a bênção do Senhor e o núcleo se criou, há mais de dois séculos.

Em Obreiros da Vida Eterna, também do Espírito André Luiz e psicografado por Francisco Cândido Xavier, é citada a instituição de assistência aos desencarnados Casa Transitória de Fabiano. Em uma de suas viagens de estudo, ele recebeu do instrutor espiritual Jerônimo a informação de que esta colônia fora fundada pelo Espírito Fabiano de Cristo, devotado servo da Caridade entre antigos religiosos do Rio de Janeiro, desencarnado há muitos anos.

A Colônia Redenção, descrita por Otília Gonçalves (Dedicada trabalhadora do Centro Espírita Caminho da Redenção, fundado pelo médium Divaldo P. Franco. Ela administrou a primeira creche dessa instituição) no livro Além da Morte, psicografado pelo médium Divaldo Pereira Franco, conforme declara a autora espiritual, foi criada no tempo da escravatura (provavelmente no século XVIII), objetivando socorrer escravos desencarnados sob o peso de sofrimentos ou sequiosos de vingança.

O Reverendo George Vale Owen (Vigário de Oxford, no Lancashire, Inglaterra; 1869-1931. Após experiências psíquicas, recebeu de Espíritos informações sobre a vida Além-Túmulo), assessorado por sua mãe desencarnada e um grupo de Espíritos, registra, em sua obra A Vida Além do Véu, a existência da Colônia da Música, em que esta Arte é cultivada em todos os aspectos.



Enfim, não há como definir, com exatidão, quando se formaram as primeiras Colônias Espirituais, desde que a época da origem do Homem no planeta Terra não foi ainda determinada pela Ciência. As diversas colônias existentes, por se encontrarem bem próximas da Terra, sofrem as mesmas influências do planeta.

E não poderia ser de outra forma, uma vez que foram criadas para atendimento a faixas ainda não muito elevadas da Espiritualidade. Há, entretanto, as colônias dos planos superiores, a que só têm acesso Espíritos que atingiram as esferas menos densas. No seu oposto, estão as constituídas por falanges de Espíritos que se dedicam ao Mal e se encontram, ainda, nos planos pavorosos do Mundo Invisível. O Espírito Otília Gonçalves, em Além da Morte, a eles se refere como (...) bandos perigosos, sob a direção de mentes cruéis, dificultando a obra de evangelização do mundo.

Essas hostes do Mal, muitas vezes sob o comando de chefes bárbaros, investem, furiosas, contra abnegados missionários que lhes tiram das mãos Espíritos infelizes por eles arregimentados.

No romance mediúnico "Apenas uma Sombra de Mulher", de Fernando do Ó, uma entidade descreve a Colônia Gordemônio situada nas adjacências da Terra, como uma vasta região habitada por Espíritos transviados e malfazejos, solertes na prática do vampirismo, os quais, após a desencarnação, surpreenderam-se impotentes para galgar... (...) planos menos tenebrosos e horríveis, em vista do seu atraso moral.

E formam... (...) desde tempos quase imemoriais uma como 'societa sceleris', que tem por esfera de ação essa extravagante, estranha e incrível metrópole do crime, (...) organização sui generis que recruta sua população entre infelizes entidades inferiores. A Colônia dispõe de líderes que superintendem todas as frentes de atividade de Gordemônio. Os líderes contam com assessores que, a seu turno, dirigem núcleos mais ou menos numerosos.

Portanto, assim como temos Colônias habitadas por Espíritos benfeitores, somos informados da existência de domínios sombrios, povoados de malfeitores que só pensam em si mesmos ou se comprazem em praticar o Mal. Não é o inferno propalado pelas religiões, pois não há calor nem fogo eternos; uma região criada por Deus com características apropriadas ao pecadores da Terra e aos demônios.

Os Espíritos que aí habitam poderão, em dias, anos ou séculos, libertar-se, por esforço próprio, desse plano deprimente, criado por suas próprias mentes. Sobre o assunto, Allan Kardec nos esclarece na Revista Espírita, no 4, de abril de 1859, no artigo Quadro da Vida Espírita:

Vem a seguir o que se pode chamar de escória do mundo espírita, constituída de todos os Espíritos impuros, cuja preocupação única é o Mal. Sofrem e desejariam que todos sofressem como eles. A inveja lhes torna odiosa toda superioridade; o ódio é a sua essência. Não podendo culpar disso os Espíritos, investem contra os homens, atacando aos que lhe parecem mais fracos.

Excitar as paixões ruins, insuflar a discórdia, separar os amigos, provocar rixas, fazer que os ambiciosos pavoneiem o seu orgulho, para o prazer de abatê-los em seguida, espalhar o erro e a mentira, numa palavra, desviar do Bem, tais são os seus pensamentos dominantes.



Os Espíritos que povoam as regiões inferiores não podem ascender a planos das Altas Esferas; entretanto os Espíritos superiores baixam a planos inferiores para incentivar os Espíritos atrasados a lutar pela sua renovação.

Os Espíritos desencarnados, oriundos de países estrangeiros, também se referem a estações de repouso no Mundo Espiritual, as quais denominam de Colônias e Cidades Espirituais e dão descrições semelhantes às contidas em obras mediúnicas brasileiras. Diversos desencarnados nos têm narrado, em mensagens avulsas, as suas experiências pela faculdade mediúnica de Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e José Medrado, para esclarecimento e consolo dos que lhe são caros: falam sobre o momento da morte, esclarecem dúvidas, dão notícias de parentes falecidos, descrevem o ambiente em que se encontram e informam sua situação no momento em que se comunicam.

Em A Vida Além do Véu, por exemplo, o Espírito comunicante, entre outros com nomes esquisitos, afirma ao Reverendo George Vale Owen que o Mundo Espiritual é a Terra aperfeiçoada, exatamente como dissera Allan Kardec. Do lado de lá, como no de cá, existem montes, rios, belas florestas e muitas casas; tudo preparado por aqueles que o precederam.

Refere-se, em diversas ocasiões, aos diversos planos da existência, desde os que se encontram próximos da crosta terrestre, como o Umbral, até as altas esferas, onde habitam os Espíritos mais evoluídos. O ponto discordante entre o conteúdo das mensagens que os médiuns ingleses receberam e as recebidas no Brasil é não considerar a reencarnação como fator imprescindível para o evolver do Espírito.

Em suma, como se pode apreender dos ensinamentos e descrições que nos chegam do Outro Mundo, não resta a menor dúvida de que o Mundo Espiritual pouco difere de nosso mundo material. Entretanto, no que diz respeito a volume de obras psicografadas sobre o tema colônias espirituais, encontra-se, na dianteira, o médium Francisco Cândido Xavier.



Lúcia Loureiro - acasadoespiritismo

domingo, 16 de março de 2014

O MISTÉRIO DA MORTE:


A morte é o grande mistério que tem ensombrado as gerações, a esfinge devoradora das almas, o titã invencivel, o hiante abservedor de todas as luzes, o obscurecedor das inteligências, o indecifrável enigma das religiões.

Não foi sem razão que o Apóstolo Paulo, o doutor dos gentios, disse que o maior e o mais terrível inimigo que teríamos de vencer, era a morte. Quando a pusermos sob o tacão das nossas botas, poderemos, então, entoar o grande hino da vitória: "Ó morte! onde está teu aguilhão? Ó morte! onde está tua vitória?"

Pois bem, esse mistério, indecifrável para as religiões; esse inimigo que os sacerdotes não ousaram enfrentar; essa esfinge que causa pavor aos crentes de todas as Igrejas, que se limitam a cantar para as suas vitimas o De profundis, é que o Espiritismo veio enfrentar e desvendar, mostrando-se já vitorioso na grande luta.

O que é a morte? No que consiste esse fenômeno, que muitos julgam ser o aniquilamento da vida? Como se produz ela?

Quem poderá responder a estas terríveis interrogações?

Qual a ciência, a filosofia, a religião capaz de enfrentar essa qüestão? Qual nos positivamente, a solução para este mistério?

O Espiritismo, mas tão somente o Espiritismo, exclusivamente o Espiritismo!

Para saber o que se passa no momento da morte, como se desenrola esse fenômeno, podemos recorrer à descrição de muitos clarividentes, que observaram a crise da morte, assistindo a moribundos.

Vamos reproduzir os testemunhos de alguns deles. O mais notável de todos foi um grande cultor do Espiritismo em seus primórdios, e que nos legou obras de inestimável valor: Andrew Jackson Davis. Essas obras, publicadas em inglês, constam de cinco volumes, que se vendem separadamente e encerram cada um, uma especialidade: O Médico, O Professor, O Reformador, O Pensador, e O Vidente.

Nesta última é que se encontram as pesquisas de Jackson Davis, "no leito da morte". Davis era dotado de poderosos dons psíquicos e duma espécie de segunda-vista, que se denomina Clarividência; além de tudo possuía grandes conhecimentos médicos. Eis alguns trechos do seu livro O Vidente:

"A morte é uma modificação - não da personalidade, mas da constituição dos princípios superiores do ser humano".

Tudo quanto vive se transforma, e cada transformação é acompanhada de uma morte aparente; nunca, porém, há extinção de vida ou destruição de um princípio material ou espiritual no Universo, Assim, se modifica ou se desenvolve um germe qualquer, oculto na Terra; morreu sua forma primitiva e seu modo de existência aparente; porém, depois dessa morte aparente, brota do germe uma nova organização ou um novo corpo".

"As minhas faculdades de vidente permitiram-me estudar o fenômeno psíquico e fisiológico da morte à cabeceira duma agonizante. Era uma senhora de cerca de sessenta anos, a quem freqüentemente eu prestara, cuidados médicos. Quando soou a hora da morte, achava-me eu, felizmente, em perfeito estado de saúde, o que permitia o pleno exercício de minhas faculdades de vidente. Coloquei-me de modo a não ser visto ou interrompido nas minhas observações psíquicas, e pus-me a estudar os misteriosos processos da morte.

"Vi que a organização física não podia mais bastar às necessidades do princípio intelectual; diversos órgãos internos pareciam, porém, resistir à partida da alma. O sistema muscular procurava reter as forças motrizes. O sistema vascular debatia-se para reter o princípio vital; o sistema nervoso lutava quanto podia para impedir o aniquilamento dos sentidos físicos, e o sistema cerebral procurava reter o princípio intelectual. O corpo e a alma, como dois esposos, resistiam à separação absoluta.

Estes conflitos internos pareciam, a principio, produzir sensações penosas e perturbadoras. Foi com satisfação que percebi que tais manifestações físicas indicavam - não a dor ou o sofrimento, mas apenas a separação da alma do organismo.

"Pouco depois, a cabeça ficou cercada duma atmosfera brilhante; em seguida, de repente, vi o cérebro e o cerebelo estenderem suas partes interiores e suspenderem o exercício de suas funções galvânicas, tornando-se saturados de princípios vitais de eletricidade e magnetismo, que penetravam nas partes secundárias do corpo. Por outras palavras: o cérebro e o cerebelo estenderam suas partes interiores para além do estado normal.

"Esse fenômeno precede invariavelmente à dissolução física.

"Constatei, depois, o processo por meio do qual o Espírito se destaca do corpo. O cérebro atraiu os elementos de eletricidade e de magnetismo, movimento, vida e sensibilidade espalhados em todo o organismo. A cabeça como que se iluminou, e, ao tempo que as extremidades do corpo se tornavam frias e obscuras, o cérebro tomava um brilho particular.

"Em torno dessa atmosfera fluídica, que cercava a cabeça, vi formar-se outra cabeça, que se desenhou cada vez mais nitidamente. Tão brilhante era, que eu mal podia fitá-la, à medida, porém, que ela se condensava, desaparecia a atmosfera brilhante. Deduzi daí que esses princípios fluídicos, que tinham sido atraídos pelo cérebro, de todas as partes do corpo, e eram, então, eliminados sob a forma de atmosfera particular, antes se achavam somente unidos, segundo o princípio superior de afinidade do Universo, que se faz sempre sentir em cada parcela da matéria.

"Com surpresa e admiração, segui as fases do fenômeno.

"Do mesmo modo porque a cabeça fluídica se desprendera do cérebro, vi formarem-se, sucessivamente, o pescoço, os ombros, o tronco, enfim, o conjunto do corpo fluídico. Tornou-se evidente, para mim, que as partes intelectuais do ser humano são dotadas duma afinidade eletiva que lhes permite reunirem-se no momento da morte. As deformidades e os defeitos do corpo físico tinham, quase inteiramente, desaparecido do corpo fluídico.

"'Enquanto esse fenômeno espiritualista se desenvolvia diante das minhas faculdades particulares, aos olhos materiais das pessoas presentes no quarto, o corpo da moribunda parecia experimentar sintomas de sofrimento, os quais eram fictícios, pois, apenas provinham da partida das forças vitais e intelectuais, que se retiravam de todo o corpo para se concentrarem no cérebro e, depois, no organismo novo.

"O Espírito (ou inteligência desencarnada) elevou-se verticalmente acima da cabeça do corpo abandonado; porém, antes da separação final do laço, que por tanto tempo reuniu as partes intelectuais e materiais, vi uma corrente de eletricidade vital formar-se sobre a cabeça da moribunda e sob o novo corpo fluídico.

"Deu-me isto a convicção de que a morte é apenas um renascimento do Espírito, que se eleva dum grau inferior a um estado superior, e que o nascimento duma criança neste mundo e a formação dum Espírito no outro, são fatos idênticos; nada realmente faltava no fato que eu observava para que o símile fosse completo, nem mesmo o cordão umbilical, que era figurado por um laço de eletricidade vital. Por algum tempo subsistiu esse laço entre os dois organismos.

"Descobri então (o que não notara ainda nas minhas investigações psíquicas) que uma pequena parte do fluido vital voltava ao corpo material, logo que o cordão ou liame elétrico se quebrava.

"Este elemento fluídico, ou elétrico, espalhando-se por todo o organismo, impedia a dissolução imediata do corpo.

"Não é prudente enterrar o corpo antes de começar a decomposição. Muitas vezes, antes da inumação, o cordão umbilical fluídico, de que falei, ainda não está quebrado. É por isso que pessoas que parecem mortas voltam à vida no fim de um ou dois dias e narram as sensações que experimentaram. Esse estado foi denominado Letargia, Catalepsia, etc.

"Quando, porém, o Espírito é detido no momento em que deixa o corpo, raramente se recorda do que se passou. Este estado de inconsciência pode parecer semelhante ao aniquilamento, quando observado superficialmente, e, muitas vezes, se recorre ao argumento que resulta dessa como que obliteração momentânea da memória, para negar a imortalidade da alma.

"Logo que se desprendeu dos laços tenazes do corpo, o Espírito da pessoa que eu observava, constatei que o seu novo organismo, fluídico, era apropriado ao seu novo estado, mas que o conjunto se assemelhava à sua aparência terrestre. Não pude saber o que se passava na inteligência que revivia; observei, porém, a sua calma e a profunda admiração que lhe causava a dor daqueles que choravam em volta do seu corpo.

"Pareceu-me que compreendeu, por fim, que essas pessoas ignoravam o que realmente se passara.

"As lágrimas e as lamentações excessivas dos parentes e amigos, só provêm do ponto de vista falso em que se coloca a maioria dos homens, isto é, da crença materialista de que tudo finaliza com a morte do corpo.

"Pelas minhas experiências, posso afirmar que, quando a pessoa morre naturalmente, nenhuma sensação penosa experimenta o Espírito.

"O período de transformação, que acabo de transcrever, dura cerca de duas horas, tempo que não é o mesmo para todos os entes humanos. Se pudésseis ver com os olhos psíquicos, perceberíeis, perto do corpo rijo, uma forma fluídica tendo a mesma aparência que o ente humano que acaba de morrer; porém, essa forma é mais bela e está como que animada de uma nova vida mais elevada".

Este testemunho seria suficiente para fazer desaparecer nossas apreensões e nos revelar, com clareza singular, o mistério da morte; mas vamos aproveitar a oportunidade para apresentar aos leitores mais dois testemunhos admiráveis de pessoas honradas e dotadas das mesmas faculdades mediúnicas.

A primeira é o de Mrs. Florence Marryat, que escreve o que segue no seu livro The Spírit World (O Mundo dos Espíritos):

"Conto, entre os meus caros amigos, uma jovem, pertencente à alta classe da aristocracia, dotada de maravilhosas faculdades mediúnicas. Teve ela, há alguns anos, a infelicidade de perder sua irmã mais velha, então com vinte anos, em conseqüência de uma forte pleurisia.

"Edith (designarei por este nome a jovem médium), não quis afastar-se um só instante da cabeceira de sua irmã, e, aí, em estado de clarividência, pôde assistir ao processo de separação do Espírito, da parte material. Contava-me ela que a pobre doente, em seus últimos dias de vida terrestre, tinha-se tornado inquieta, sobre-excitada, delirante, voltando-se, incessantemente, no leito, e pronunciando palavras sem sentido. Foi então que Edith começou a perceber uma espécie de ligeira nebulosidade, semelhante à fumaça que, condensando-se gradualmente acima da cabeça, acabou por assumir as proporções, as formas e os traços da irmã moribunda, de modo a se lhe assemelhar por completo. Essa forma flutuava no ar, a pouca distância da doente.

"A medida que o dia declinava, a agitação da enferma minorava, sendo substituida, à tarde, por prostração profunda, precursora da agonia.

"Edith contemplava, avidamente a irmã: o rosto tornara-se livido; o olhar se lhe obscurecera, mas, ao alto, a forma fluidíca purpureava-se e parecia animar-se gradualmente com a vida que abandonava o corpo.

"Um momento depois, a moça jazia inerte e sem conhecimento sobre os travesseiros, mas a forma transformara-se em Espírito Vivo. Cordões de luz, no entanto, semelhantes a florescências elétricas, ligaram-se ainda ao coração, ao cérebro e aos outros órgãos vitais.

"Chegando o momento supremo, o Espírito oscilou algum tempo de um lado para outro, para vir, em seguida, colocar-se ao lado do corpo inanimado: ele era, em aparência, muito fraco e mal podia suster-se.

"E enquanto Edith contemplava esta cena, eis que se apresentaram duas formas luminosas, nas quais reconheceu seu pai e sua avó, mortos ambos nessa mesma casa. Aproximaram-se do Espírito recém-liberto, romperam os cordões de luz que o ligavam ainda ao corpo e, apertando-o nos braços, dirigiram-se à janela e desapareceram".

O outro testemunho é o de William Stainton Moses, pastor da Igreja Anglicana e um dos mais célebres médiuns. Eis o que ele publicou na Revista Inglesa Light:

"Tive, recentemente, e pela prímeira vez na vida, ocasião de estudar os processos de transição do Espírito. Aprendi tantas coisas dessa experiência, que me louvo por ser útil a outros, contando o que vi... Tratava de um próximo parente meu de quase 80 anos... Eu tinha percebido, por certos sintomas, que o seu fim estava próximo, e corri para preencher meu triste e último dever. Graças aos meus sentidos espirituais, podia verificar que, em torno e acima de seu corpo, se formava a aura nebulosa com a qual o Espírito devia preparar o seu corpo espiritual; e percebia que ela ia aumentando de volume e densidade, posto que submetida a maiores ou menores variações, segundo as oscilações experimentadas na vitalidade do moribundo.

"Pude, assim, notar que, por vezes, um ligeiro alimento tomado pelo doente, ou uma influência magnética desprendida por pessoa que dele se aproximava, tinha como resultado avivar momentaneamente o corpo.

"A aura parecia, pois, continuamente em fluxo e refluxo. Assisti a esse espetáculo durante doze dias e doze noites e, se bem que ao sétimo dia já o corpo tivesse dado sinais da sua iminente dissolução, a flutuação da vitalidade espiritual, em via de exteriorização, persistia. Pelo contrário, a cor da aura tinha mudado; essa última tomava, além disso, formas cada vez mais definidas, à medida que a hora da libertação se aproximava para o Espírito.

"Vinte e quatro horas, somente, antes da morte, quando o corpo jazia inerte, foi que o processo da libertação progrediu. No momento supremo vi aparecer em formas de "anjos de guarda", que se chegaram ao moribundo, e, sem nenhum esforço, separaram o Espírito do corpo consumido. Quando, enfim, se quebraram os cordões magnéticos, os traços do defunto, nos quais se liam os sofrimentos experimentados, serenaram completamente e se impregnaram de inefável expressão de paz e de repouso”.



A morte, como se vê, nada mais é que uma crise, mudança para um outro estado, uma passagem da vida da matéria para a vida do Espírito, das trevas para a luz, da aparência para a realidade.









Cairbar Schutel

domingo, 9 de março de 2014

POR QUE MUITOS ESPÍRITOS TEM DÚVIDA QUANTO Á PRÓPRIA DESENCARNAÇÃO?



Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, cuja primeira edição foi publicada em 1º de agosto de 1865. A obra integra o chamado Pentateuco Kardequiano. As respostas às questões sugeridas para debate encontram-se no final do texto abaixo.
Questões para debate

A. Que acontece àqueles que só pensam em si?

B. Que são as trevas?

C. Que estado sobrevém aos suicidas?

D. Por que muitos Espíritos têm dúvida sobre a própria desencarnação?
Texto para leitura

193. O caso F. Bertin, semelhante ao de Pascal Lavic, mostra que, passados vários dias depois de sua morte, o Espírito ainda experimentava todas as angústias do afogamento. A confusão de suas ideias era patente, visto que ora dizia estar vivo, ora falava de sua morte. “Toda essa incoerência – afirma Kardec – denota a confusão das ideias, fato comum em quase todas as mortes violentas.” (Segunda Parte, cap. IV, F. Bertin.)

194. Bertin contou em sua mensagem a causa verdadeira de suas angústias. É que na precedente existência ele mandara ensacar várias vítimas e atirá-las ao mar... (Segunda Parte, cap. IV, F. Bertin.)

195. Celibatário e avarento, Francisco Riquier permanecia apegado ao dinheiro mesmo após transcorridos cinco anos de sua morte. Não se considerando morto, Riquier experimentava ainda a ansiedade, bem cruel para um usurário, de ver seus bens partilhados pelos herdeiros. (Segunda Parte, cap. IV, Francisco Riquier.)

196. O caso Clara mostra a situação na vida espiritual das pessoas inúteis que na vida só pensam em si. Vê-se ali também a descrição da condição espiritual de Félix, marido de Clara: “Félix – superficial nas ideias como nos sentimentos; violento por fraqueza; devasso por frivolidade – entrou no mundo espiritual tão nu relativamente ao moral como quanto ao físico. Em reencarnar nada adquiriu e, consequentemente, tem de recomeçar toda a obra”. “Seu estado presente – disse Clara sobre o ex-marido – é comparável ao da criança inapta para as funções da vida e privada de todo o amparo.” “Félix vaga aterrorizado nesse mundo estranho onde tudo fulgura ao brilho desse Deus por ele negado.”(Segunda Parte, cap. IV, Clara.)

197. Elucidando o caso Clara, São Luís informa que o perispírito possui uma propriedade luminosa que se desenvolve sob o influxo da atividade e das qualidades da alma. “Poder-se-ia dizer que essas qualidades estão para o fluido perispiritual como o friccionamento para o fósforo. A intensidade da luz está na razão da pureza do Espírito: as menores imperfeições morais atenuam e enfraquecem-na. A luz irradiada por um Espírito será tanto mais viva quanto maior o seu adiantamento.” (Segunda Parte, cap. IV, Clara.)

198. Lembrando que há Espíritos inferiores que veem perfeitamente e não vivem na obscuridade, Kardec diz que tudo indica que, independente da luz que lhes é própria, os Espíritos recebem uma luz exterior que pode lhes faltar, segundo as circunstâncias, donde se conclui que a obscuridade depende de uma causa ou de uma vontade estranha, constituindo punição especial da soberana justiça, para casos determinados. (Segunda Parte, cap. IV, Clara.)

199. Na sequência, Kardec pergunta a São Luís qual a causa da maior facilidade da educação moral dos desencarnados, comparativamente com a educação dos encarnados. O Instrutor esclareceu o assunto dizendo, numa palavra, que é a independência da carne que facilita a conversão, principalmente quando o Espírito já adquiriu certo desenvolvimento pelas provações cumpridas.(Segunda Parte, cap. IV, Clara.)

200. Louvet François-Simon, vencido pelo desgosto, por não suportar a prova da miséria, matou-se aos 67 anos de idade. Ele atirou-se da Torre Francisco I, despedaçando-se nas pedras. Seis anos depois, o Espírito se via ainda a cair da mesma torre, estraçalhando-se nas pedras. (Segunda Parte, cap. V, Louvet François-Simon.)
Respostas às questões propostas

A. Que acontece àqueles que só pensam em si?

O depoimento de Clara é expressivo quanto a essa pergunta. Disse ela: “Malditas sejam as horas de egoísmo e inércia, nas quais, esquecida de toda a caridade, de todo o afeto, eu só pensava no meu bem-estar! Malditos interesses humanos, preocupações materiais que me cegaram e perderam! Agora o remorso do tempo perdido”. Comentando o caso, São Luís acrescentou: “Perguntar-se-á talvez o que fez essa mulher para ser assim tão miserável. Cometeu ela algum crime horrível? roubou? assassinou? Não; ela nada fez que afrontasse a justiça dos homens. Ao contrário, divertia-se com o que chamais felicidade terrena; beleza, gozos, adulações, tudo lhe sorria, nada lhe faltava, a ponto de dizerem os que a viam: – Que mulher feliz! E invejavam-lhe a sorte. Mas, quereis saber? Foi egoísta; possuía tudo, exceto um bom coração. Não violou a lei dos homens, mas a de Deus, visto como esqueceu a primeira das virtudes – a caridade. Não tendo amado senão a si mesma, agora não encontra ninguém que a ame e vê-se insulada, abandonada, ao desamparo no Espaço, onde ninguém pensa nela nem dela se ocupa. Eis o que constitui o seu tormento. Tendo apenas procurado os gozos mundanos que hoje não mais existem, o vácuo se lhe fez em torno, e como vê apenas o nada, este lhe parece eterno. Ela não sofre torturas físicas; não vêm atormentá-la os demônios, o que é aliás desnecessário, uma vez que se atormenta a si mesma, e isso lhe é mais doloroso, porquanto, se tal acontecesse, os demônios seriam seres a ocuparem-se dela. O egoísmo foi a sua alegria na Terra; pois bem, é ainda ele que a persegue – verme a corroer-lhe o coração, seu verdadeiro demônio”. (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. IV, Clara, itens 2 e 4.)

B. Que são as trevas?

Quando se diz que certos Espíritos estão imersos em trevas, deve-se depreender daí uma verdadeira noite da alma comparável à obscuridade intelectual do idiota. É uma inconsciência com relação a tudo que os rodeia, a qual se produz quer na presença, quer na ausência da luz material. É, principalmente, a punição dos que duvidaram do seu destino. Pois que acreditaram em o nada, as aparências desse nada os supliciam, porque coisa alguma percebem em torno de si, somente trevas. As trevas para o Espírito são, em resumo, a ignorância, o vácuo, o horror ao desconhecido... (Obra citada, Segunda Parte, cap. IV, Clara, Estudo sobre as comunicações de Clara, pergunta feita a São Luís e mensagem assinada por Clara.)

C. Que estado sobrevém aos suicidas?

A um suicida, Kardec perguntou se foi doloroso o momento em que a vida dele se extinguiu. Ele respondeu: “Menos doloroso que depois”. Tal estado, segundo São Luís, sobrevém sempre ao suicídio, porque o Espírito do suicida – como regra geral – continua ligado ao corpo até o termo da vida que foi abreviada. A decepção que daí advém é, portanto, muito grande. No caso do suicida da Samaritana, ele experimentava, ainda, o suplício de sentir os vermes a corroerem o corpo, um estado comum aos suicidas, embora nem sempre se apresente em idênticas condições, variando de duração e intensidade conforme as circunstâncias atenuantes ou agravantes da falta. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, O suicida da Samaritana.)

D. Por que muitos Espíritos têm dúvida sobre a própria desencarnação?

A dúvida com relação à morte é muito comum nas pessoas recentemente desencarnadas, e principalmente naquelas que, durante a vida, não elevaram a alma acima da matéria. É um fenômeno que parece singular à primeira vista, mas que se explica naturalmente. Se a um indivíduo, pela primeira vez sonambulizado, perguntarmos se dorme, ele responderá quase sempre que não, e essa resposta é lógica: o interlocutor é que faz mal a pergunta, servindo-se de um termo impróprio. Na linguagem comum, a ideia do sono prende-se à suspensão de todas as faculdades sensitivas; ora, o sonâmbulo que pensa, que vê e sente, que tem consciência da sua liberdade, não se crê adormecido, e de fato não dorme, na acepção vulgar do vocábulo. Eis a razão por que responde não, até que se familiariza com essa maneira de apreender o fato. O mesmo acontece com o homem que acaba de desencarnar; para ele a morte era o aniquilamento do ser, e, tal como o sonâmbulo, ele vê, sente e fala, e assim não se considera morto. E isso ele afirmará até que adquira a intuição do seu novo estado. Essa ilusão é sempre mais ou menos dolorosa, uma vez que nunca é completa e pode dar ao Espírito uma ansiedade muito grande. (Obra citada, Segunda Parte, cap. V, O suicida da Samaritana, nota de Kardec após a pergunta 18.)


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