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domingo, 16 de março de 2014

O MISTÉRIO DA MORTE:


A morte é o grande mistério que tem ensombrado as gerações, a esfinge devoradora das almas, o titã invencivel, o hiante abservedor de todas as luzes, o obscurecedor das inteligências, o indecifrável enigma das religiões.

Não foi sem razão que o Apóstolo Paulo, o doutor dos gentios, disse que o maior e o mais terrível inimigo que teríamos de vencer, era a morte. Quando a pusermos sob o tacão das nossas botas, poderemos, então, entoar o grande hino da vitória: "Ó morte! onde está teu aguilhão? Ó morte! onde está tua vitória?"

Pois bem, esse mistério, indecifrável para as religiões; esse inimigo que os sacerdotes não ousaram enfrentar; essa esfinge que causa pavor aos crentes de todas as Igrejas, que se limitam a cantar para as suas vitimas o De profundis, é que o Espiritismo veio enfrentar e desvendar, mostrando-se já vitorioso na grande luta.

O que é a morte? No que consiste esse fenômeno, que muitos julgam ser o aniquilamento da vida? Como se produz ela?

Quem poderá responder a estas terríveis interrogações?

Qual a ciência, a filosofia, a religião capaz de enfrentar essa qüestão? Qual nos positivamente, a solução para este mistério?

O Espiritismo, mas tão somente o Espiritismo, exclusivamente o Espiritismo!

Para saber o que se passa no momento da morte, como se desenrola esse fenômeno, podemos recorrer à descrição de muitos clarividentes, que observaram a crise da morte, assistindo a moribundos.

Vamos reproduzir os testemunhos de alguns deles. O mais notável de todos foi um grande cultor do Espiritismo em seus primórdios, e que nos legou obras de inestimável valor: Andrew Jackson Davis. Essas obras, publicadas em inglês, constam de cinco volumes, que se vendem separadamente e encerram cada um, uma especialidade: O Médico, O Professor, O Reformador, O Pensador, e O Vidente.

Nesta última é que se encontram as pesquisas de Jackson Davis, "no leito da morte". Davis era dotado de poderosos dons psíquicos e duma espécie de segunda-vista, que se denomina Clarividência; além de tudo possuía grandes conhecimentos médicos. Eis alguns trechos do seu livro O Vidente:

"A morte é uma modificação - não da personalidade, mas da constituição dos princípios superiores do ser humano".

Tudo quanto vive se transforma, e cada transformação é acompanhada de uma morte aparente; nunca, porém, há extinção de vida ou destruição de um princípio material ou espiritual no Universo, Assim, se modifica ou se desenvolve um germe qualquer, oculto na Terra; morreu sua forma primitiva e seu modo de existência aparente; porém, depois dessa morte aparente, brota do germe uma nova organização ou um novo corpo".

"As minhas faculdades de vidente permitiram-me estudar o fenômeno psíquico e fisiológico da morte à cabeceira duma agonizante. Era uma senhora de cerca de sessenta anos, a quem freqüentemente eu prestara, cuidados médicos. Quando soou a hora da morte, achava-me eu, felizmente, em perfeito estado de saúde, o que permitia o pleno exercício de minhas faculdades de vidente. Coloquei-me de modo a não ser visto ou interrompido nas minhas observações psíquicas, e pus-me a estudar os misteriosos processos da morte.

"Vi que a organização física não podia mais bastar às necessidades do princípio intelectual; diversos órgãos internos pareciam, porém, resistir à partida da alma. O sistema muscular procurava reter as forças motrizes. O sistema vascular debatia-se para reter o princípio vital; o sistema nervoso lutava quanto podia para impedir o aniquilamento dos sentidos físicos, e o sistema cerebral procurava reter o princípio intelectual. O corpo e a alma, como dois esposos, resistiam à separação absoluta.

Estes conflitos internos pareciam, a principio, produzir sensações penosas e perturbadoras. Foi com satisfação que percebi que tais manifestações físicas indicavam - não a dor ou o sofrimento, mas apenas a separação da alma do organismo.

"Pouco depois, a cabeça ficou cercada duma atmosfera brilhante; em seguida, de repente, vi o cérebro e o cerebelo estenderem suas partes interiores e suspenderem o exercício de suas funções galvânicas, tornando-se saturados de princípios vitais de eletricidade e magnetismo, que penetravam nas partes secundárias do corpo. Por outras palavras: o cérebro e o cerebelo estenderam suas partes interiores para além do estado normal.

"Esse fenômeno precede invariavelmente à dissolução física.

"Constatei, depois, o processo por meio do qual o Espírito se destaca do corpo. O cérebro atraiu os elementos de eletricidade e de magnetismo, movimento, vida e sensibilidade espalhados em todo o organismo. A cabeça como que se iluminou, e, ao tempo que as extremidades do corpo se tornavam frias e obscuras, o cérebro tomava um brilho particular.

"Em torno dessa atmosfera fluídica, que cercava a cabeça, vi formar-se outra cabeça, que se desenhou cada vez mais nitidamente. Tão brilhante era, que eu mal podia fitá-la, à medida, porém, que ela se condensava, desaparecia a atmosfera brilhante. Deduzi daí que esses princípios fluídicos, que tinham sido atraídos pelo cérebro, de todas as partes do corpo, e eram, então, eliminados sob a forma de atmosfera particular, antes se achavam somente unidos, segundo o princípio superior de afinidade do Universo, que se faz sempre sentir em cada parcela da matéria.

"Com surpresa e admiração, segui as fases do fenômeno.

"Do mesmo modo porque a cabeça fluídica se desprendera do cérebro, vi formarem-se, sucessivamente, o pescoço, os ombros, o tronco, enfim, o conjunto do corpo fluídico. Tornou-se evidente, para mim, que as partes intelectuais do ser humano são dotadas duma afinidade eletiva que lhes permite reunirem-se no momento da morte. As deformidades e os defeitos do corpo físico tinham, quase inteiramente, desaparecido do corpo fluídico.

"'Enquanto esse fenômeno espiritualista se desenvolvia diante das minhas faculdades particulares, aos olhos materiais das pessoas presentes no quarto, o corpo da moribunda parecia experimentar sintomas de sofrimento, os quais eram fictícios, pois, apenas provinham da partida das forças vitais e intelectuais, que se retiravam de todo o corpo para se concentrarem no cérebro e, depois, no organismo novo.

"O Espírito (ou inteligência desencarnada) elevou-se verticalmente acima da cabeça do corpo abandonado; porém, antes da separação final do laço, que por tanto tempo reuniu as partes intelectuais e materiais, vi uma corrente de eletricidade vital formar-se sobre a cabeça da moribunda e sob o novo corpo fluídico.

"Deu-me isto a convicção de que a morte é apenas um renascimento do Espírito, que se eleva dum grau inferior a um estado superior, e que o nascimento duma criança neste mundo e a formação dum Espírito no outro, são fatos idênticos; nada realmente faltava no fato que eu observava para que o símile fosse completo, nem mesmo o cordão umbilical, que era figurado por um laço de eletricidade vital. Por algum tempo subsistiu esse laço entre os dois organismos.

"Descobri então (o que não notara ainda nas minhas investigações psíquicas) que uma pequena parte do fluido vital voltava ao corpo material, logo que o cordão ou liame elétrico se quebrava.

"Este elemento fluídico, ou elétrico, espalhando-se por todo o organismo, impedia a dissolução imediata do corpo.

"Não é prudente enterrar o corpo antes de começar a decomposição. Muitas vezes, antes da inumação, o cordão umbilical fluídico, de que falei, ainda não está quebrado. É por isso que pessoas que parecem mortas voltam à vida no fim de um ou dois dias e narram as sensações que experimentaram. Esse estado foi denominado Letargia, Catalepsia, etc.

"Quando, porém, o Espírito é detido no momento em que deixa o corpo, raramente se recorda do que se passou. Este estado de inconsciência pode parecer semelhante ao aniquilamento, quando observado superficialmente, e, muitas vezes, se recorre ao argumento que resulta dessa como que obliteração momentânea da memória, para negar a imortalidade da alma.

"Logo que se desprendeu dos laços tenazes do corpo, o Espírito da pessoa que eu observava, constatei que o seu novo organismo, fluídico, era apropriado ao seu novo estado, mas que o conjunto se assemelhava à sua aparência terrestre. Não pude saber o que se passava na inteligência que revivia; observei, porém, a sua calma e a profunda admiração que lhe causava a dor daqueles que choravam em volta do seu corpo.

"Pareceu-me que compreendeu, por fim, que essas pessoas ignoravam o que realmente se passara.

"As lágrimas e as lamentações excessivas dos parentes e amigos, só provêm do ponto de vista falso em que se coloca a maioria dos homens, isto é, da crença materialista de que tudo finaliza com a morte do corpo.

"Pelas minhas experiências, posso afirmar que, quando a pessoa morre naturalmente, nenhuma sensação penosa experimenta o Espírito.

"O período de transformação, que acabo de transcrever, dura cerca de duas horas, tempo que não é o mesmo para todos os entes humanos. Se pudésseis ver com os olhos psíquicos, perceberíeis, perto do corpo rijo, uma forma fluídica tendo a mesma aparência que o ente humano que acaba de morrer; porém, essa forma é mais bela e está como que animada de uma nova vida mais elevada".

Este testemunho seria suficiente para fazer desaparecer nossas apreensões e nos revelar, com clareza singular, o mistério da morte; mas vamos aproveitar a oportunidade para apresentar aos leitores mais dois testemunhos admiráveis de pessoas honradas e dotadas das mesmas faculdades mediúnicas.

A primeira é o de Mrs. Florence Marryat, que escreve o que segue no seu livro The Spírit World (O Mundo dos Espíritos):

"Conto, entre os meus caros amigos, uma jovem, pertencente à alta classe da aristocracia, dotada de maravilhosas faculdades mediúnicas. Teve ela, há alguns anos, a infelicidade de perder sua irmã mais velha, então com vinte anos, em conseqüência de uma forte pleurisia.

"Edith (designarei por este nome a jovem médium), não quis afastar-se um só instante da cabeceira de sua irmã, e, aí, em estado de clarividência, pôde assistir ao processo de separação do Espírito, da parte material. Contava-me ela que a pobre doente, em seus últimos dias de vida terrestre, tinha-se tornado inquieta, sobre-excitada, delirante, voltando-se, incessantemente, no leito, e pronunciando palavras sem sentido. Foi então que Edith começou a perceber uma espécie de ligeira nebulosidade, semelhante à fumaça que, condensando-se gradualmente acima da cabeça, acabou por assumir as proporções, as formas e os traços da irmã moribunda, de modo a se lhe assemelhar por completo. Essa forma flutuava no ar, a pouca distância da doente.

"A medida que o dia declinava, a agitação da enferma minorava, sendo substituida, à tarde, por prostração profunda, precursora da agonia.

"Edith contemplava, avidamente a irmã: o rosto tornara-se livido; o olhar se lhe obscurecera, mas, ao alto, a forma fluidíca purpureava-se e parecia animar-se gradualmente com a vida que abandonava o corpo.

"Um momento depois, a moça jazia inerte e sem conhecimento sobre os travesseiros, mas a forma transformara-se em Espírito Vivo. Cordões de luz, no entanto, semelhantes a florescências elétricas, ligaram-se ainda ao coração, ao cérebro e aos outros órgãos vitais.

"Chegando o momento supremo, o Espírito oscilou algum tempo de um lado para outro, para vir, em seguida, colocar-se ao lado do corpo inanimado: ele era, em aparência, muito fraco e mal podia suster-se.

"E enquanto Edith contemplava esta cena, eis que se apresentaram duas formas luminosas, nas quais reconheceu seu pai e sua avó, mortos ambos nessa mesma casa. Aproximaram-se do Espírito recém-liberto, romperam os cordões de luz que o ligavam ainda ao corpo e, apertando-o nos braços, dirigiram-se à janela e desapareceram".

O outro testemunho é o de William Stainton Moses, pastor da Igreja Anglicana e um dos mais célebres médiuns. Eis o que ele publicou na Revista Inglesa Light:

"Tive, recentemente, e pela prímeira vez na vida, ocasião de estudar os processos de transição do Espírito. Aprendi tantas coisas dessa experiência, que me louvo por ser útil a outros, contando o que vi... Tratava de um próximo parente meu de quase 80 anos... Eu tinha percebido, por certos sintomas, que o seu fim estava próximo, e corri para preencher meu triste e último dever. Graças aos meus sentidos espirituais, podia verificar que, em torno e acima de seu corpo, se formava a aura nebulosa com a qual o Espírito devia preparar o seu corpo espiritual; e percebia que ela ia aumentando de volume e densidade, posto que submetida a maiores ou menores variações, segundo as oscilações experimentadas na vitalidade do moribundo.

"Pude, assim, notar que, por vezes, um ligeiro alimento tomado pelo doente, ou uma influência magnética desprendida por pessoa que dele se aproximava, tinha como resultado avivar momentaneamente o corpo.

"A aura parecia, pois, continuamente em fluxo e refluxo. Assisti a esse espetáculo durante doze dias e doze noites e, se bem que ao sétimo dia já o corpo tivesse dado sinais da sua iminente dissolução, a flutuação da vitalidade espiritual, em via de exteriorização, persistia. Pelo contrário, a cor da aura tinha mudado; essa última tomava, além disso, formas cada vez mais definidas, à medida que a hora da libertação se aproximava para o Espírito.

"Vinte e quatro horas, somente, antes da morte, quando o corpo jazia inerte, foi que o processo da libertação progrediu. No momento supremo vi aparecer em formas de "anjos de guarda", que se chegaram ao moribundo, e, sem nenhum esforço, separaram o Espírito do corpo consumido. Quando, enfim, se quebraram os cordões magnéticos, os traços do defunto, nos quais se liam os sofrimentos experimentados, serenaram completamente e se impregnaram de inefável expressão de paz e de repouso”.



A morte, como se vê, nada mais é que uma crise, mudança para um outro estado, uma passagem da vida da matéria para a vida do Espírito, das trevas para a luz, da aparência para a realidade.









Cairbar Schutel

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