DEPOIMENTO DE PARTICIPANTE DO GRUPO CASULO
Como o Casulo me ajudou...
Há momentos em nossas vidas que não sentimos o chão onde pisamos nem mesmo enxergamos o mundo a nossa volta. O que melhor caracteriza estes momentos de profunda tristeza é quando perdemos um ente querido, levado pela morte qualquer que seja a causa , agravada pelo sentimento de solidão e necessidade de readequação quando se trata de perda de cônjuges.
No meu caso a viuvez, que toma dimensões imensuráveis por se tratar de uma brusca mudança de hábitos e costumes, afetando nossa rotina e nossa vida como um todo. Geralmente o que acontece com viúvos(as) e comigo não foi diferente é que na primeira fase do luto onde a mente parece estar anestesiada não conseguimos ter a exata noção de realidade.
Passada esta fase de imensa tortura emocional, que ocorre geralmente nas primeiras semanas do luto, não conseguimos perceber, mas as pessoas a nossa volta de forma geral nos respeitam, e agem de maneira adequada para conosco, simplesmente por que mal nos dirigem o olhar ou as palavras, e apesar desta atitude tida como egoísta, é disto que precisamos.
Logo após vem a fase em que a rotina e todas as coisas vão se normalizando para as outras pessoas, mas para nós que carregamos a dor a desesperança continua, sempre acompanhada de uma enorme necessidade de falar, interagir com as pessoas e com a sociedade. Qualquer tipo de ajuda que parta dos nossos amigos, parentes e até mesmo de um terapeuta são bem vindas, mas não preenchem o vazio que sentimos nesta hora.
No meu caso por me sentir completamente só e de certa forma fora da sociedade, e é isto mesmo, fora dela, pois nesta fase não nos divertimos, não há o que nos alegre e, portanto deixamos de ser consumistas, temos a grande dificuldade de nos relacionar, e não aceitamos os conselhos de pessoas que não passaram por este momento delicado da perda e não sabem e não tem como nos ajudar, apesar de que na maioria das vezes esta ajuda é bem intencionada.
Ao conhecer o Grupo Casulo e fazer parte dele, através de reuniões na forma de terapia informal de grupo , tive a oportunidade de dividir, compartilhar minha dor com os demais participantes que, estes sim, conhecendo perfeitamente e tendo passado pelo mesmo sofrimento que estamos passando podem nos ajudar, pois falamos a mesma língua.
Aqueles sentimentos muitas vezes de revolta, falta de aceitação ou mesmo inconformismo, que muitas vezes nos levam a pensar que estamos “loucos”, ao nos deparar com certos hábitos e realizar ações voltadas para a memória do ente que morreu como sonhos, manias e pensamentos que em geral são comuns a todos nesta situação são compreendidos, sendo que fora de um grupo de apoio nem sequer temos a coragem de relatar estes fatos a qualquer pessoa que seja. Há uma sintonia de sentimentos e emoções, que nos faz ver que não estamos sozinhos, e que outras pessoas sofrem da mesma dor e buscam conforto entre iguais para o recomeço de suas vidas.
Não se trata apenas de um grupo de apoio, mas sim de uma legião de pessoas que sofrem ou sofreram dor semelhante a nossa que nos indicam através de suas experiências os caminhos para este recomeço, esta readequação, e se solidarizam conosco com o objetivo de entender e aceitar por mais difícil que seja a morte como parte integrante do processo de vida.
Mauricio
Membro participante do Casulo - Grupo de Apoio ao Luto em São Paulo
:: publicado por Alice Lanalice às 08:11
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