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segunda-feira, 17 de fevereiro de 2014

A AFLIÇÃO DOS PAIS PREJUDICA OS FILHOS RECÉM -DESENCARNADOS?


O Céu e o Inferno

Allan Kardec

(Parte 19)





Continuamos o estudo metódico do livro “O Céu e o Inferno, ou a Justiça Divina segundo o Espiritismo”, de Allan Kardec, cuja primeira edição foi publicada em 1º de agosto de 1865. A obra integra o chamado Pentateuco Kardequiano. As respostas às questões sugeridas para debate encontram-se no final do texto abaixo.
Questões para debate

A. A aflição dos pais prejudica os filhos recém-desencarnados?

B. Os guias ou Espíritos protetores nos auxiliam nos momentos difíceis?

C. Como os Espíritos definem a morte? Há diferenças entre o desprendimento do desencarnante e o desprendimento de um encarnado através do desdobramento?

D. Há diferença entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus?
Texto para leitura

164. A morte de Maurício Gontran, filho único, aos dezoito anos de idade, em razão de uma congestão pulmonar, abalou muito os seus familiares e acarretou para seus pais uma dor imensa. Inteligência rara e extremamente dedicado aos estudos, o jovem reunia diversas qualidades morais e tudo concorria para prever-lhe um brilhante futuro. Alguns meses após o decesso, ele comunicou-se, pedindo: “Meus bons amigos, não deploreis aqueles que morrem precocemente, porque isso é uma graça que Deus lhes concede, poupando-os às tribulações da vida terrena. A minha existência aí não devia prolongar-se por muito tempo desta vez, pois adquirira o necessário para me preparar no Espaço, para uma missão mais elevada”. “Se tivesse mais tempo – asseverou Maurício –, não imaginais a que perigos e seduções iria expor-me.” (Segunda Parte, cap. II, Maurício Gontran.)

165. Maurício conta que seu avô – não mais esquálido, porém com aspecto juvenil e loução – estendeu-lhe os braços e o estreitou efusivamente ao coração, no seu retorno ao mundo espiritual, enquanto uma multidão de outras pessoas, de semblantes risonhos, o acompanhavam e acolhiam com benevolência e doçura. (Segunda Parte, cap. II, Maurício Gontran.)

166. Falando acerca dos estudos que realizou na Terra – que para muitos pareciam ter sido tempo perdido –, asseverou Maurício Gontran: “Os estudos sérios que realizei me fortificaram a alma e lhe aumentaram os conhecimentos e se, em virtude da minha curta existência, não pude dar-lhes aplicação, nem por isso deixarei de o fazer mais tarde e com maior utilidade”. (Segunda Parte, cap. II, Maurício Gontran.)

167. José Bré, evocado 22 anos depois de sua morte, por sua neta, informou que ainda expiava a sua descrença, mas grande era a bondade de Deus, que atendia às circunstâncias: “Sofro, mas não como V. poderia imaginar; é o desgosto de não ter melhor aproveitado o tempo aí na Terra”. (Segunda Parte, cap. III, José Bré.)

168. Tendo em vista que o avô vivera honestamente, a neta não compreendia as suas tribulações no mundo espiritual, ao que José Bré informou: “Não basta, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas”. “Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações sem esquecer a condição do servo ao qual o Senhor pedirá contas um dia do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.” (Segunda Parte, cap. III, José Bré.)

169. Falecida subitamente, aos 25 anos, Helena Michel, rica e um tanto frívola, assim se exprimia, três dias após seu falecimento: “Não sei onde estou... que turbação me cerca! Chamou-me e eu vim. Não compreendo porque não estou em minha casa; choram a minha ausência quando presente estou, sem poder fazer-me contudo reconhecida. Meu corpo não mais me pertence e no entanto eu lhe sinto a frigidez... Quero deixá-lo e mais a ele me atenho sempre...” “Oh! quando chegarei a compreender o que comigo se passa?” (Segunda Parte, cap. III, Helena Michel.)

170. Evocada novamente depois de alguns dias, as ideias de Helena Michel estavam já muito modificadas. Ciente do que lhe acontecera, Helena explicou que havia compreendido a morte no mesmo dia em que oraram por ela.(Segunda Parte, cap. III, Helena Michel.)

171. Falecido em 1860 e evocado a pedido de sua irmã, confreira da Sociedade Espírita de Paris, em 1861, o Marquês de S. Paulo disse que se encontrava na erraticidade – “estado transitório que não proporciona nem felicidade, nem castigo absolutos” – e informou que esteve muito tempo perturbado, até que oraram por ele, quando então fora recebido por sua mãe e seu pai, que o iniciaram à nova vida. O Marquês admitiu encontrar-se num estado transitório, onde as virtudes humanas passam a ter o seu justo valor. “Certamente – asseverou o Espírito – este estado é mil vezes preferível ao da minha encarnação terrestre; mas, porque alimentei sempre aspirações ao verdadeiramente bom e belo, minha alma não ficará satisfeita senão quando se colocar aos pés do Criador.” (Segunda Parte, cap. III, O Marquês de S. Paulo.)

172. Havendo previsto o dia de seu falecimento, chegado o momento, o Sr. Cardon, que exercia a modesta profissão de médico de roça, reuniu a família para dizer-lhe o último adeus. Quando parecia que ele estava morto, minutos depois o doente reabriu os olhos, tomou radiante expressão de beatitude e exclamou: “Oh! meus filhos, belo! sublime! Oh! a morte! que benefício! que coisa suave! Morto, senti minha alma elevar-se bem alta, porém Deus me permitiu voltasse para poder dizer-lhes: Não lamentem a minha morte, que é a libertação”. Em seguida, prosseguiu: “Oh! meus filhos, comportem-se sempre de modo a merecer esta inefável felicidade reservada aos homens de bem; vivam de conformidade com os preceitos da caridade; daquilo que tiverem, deem sempre uma parte aos necessitados. Minha querida mulher, deixo-a numa posição pouco lisonjeira; temos dívidas a receber, mas eu a conjuro a não atormentar os nossos devedores; se estiverem em apuros, espere que possam pagar; e aos que não o puderem fazer, perdoe-lhes, Deus a recompensará”. Finda a breve mensagem aos familiares, os olhos do médico cerraram-se para sempre. (Segunda Parte, cap. III, Cardon, médico.)

173. Evocado dias depois, Cardon explicou que as palavras por ele dirigidas à família eram o reflexo do que tinha visto e ouvido: foram os bons Espíritos que lhe inspiraram a linguagem e deram fulgor à sua fisionomia. “Arrebatado por não sei que agente maravilhoso – contou o Espírito –, eu vi os esplendores de um céu, desses que só em sonho podemos imaginar. Esse percurso, através do infinito, fazia-se com celeridade tamanha que eu não pude precisar os instantes nele empregados pelo meu Espírito.” (Segunda Parte, cap. III, Cardon, médico.)
Respostas às questões propostas

A. A aflição dos pais prejudica os filhos recém-desencarnados?

Sim. Foi exatamente isso que revelou o Espírito de Maurício Gontran, que, no entanto, explicou que a dor de seus pais se acalmaria quando tivessem a certeza de que a vida continua e de que ninguém, de fato, morre. (O Céu e o Inferno, Segunda Parte, cap. II, Maurício Gontran, 1ª pergunta.)

B. Os guias ou Espíritos protetores nos auxiliam nos momentos difíceis?

Sim. O Espírito da Srta. Emma Livry revelou que foram seu guia e os benfeitores espirituais que deram ao seu ânimo abatido a força de suportar as angústias e lhe refrescaram os lábios sedentos e escaldantes, além de murmurar-lhe ao ouvido palavras de esperança e de amor. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, A senhorita Emma.)

C. Como os Espíritos definem a morte? Há diferenças entre o desprendimento do desencarnante e o desprendimento de um encarnado em desdobramento?

A morte é a vida, ou antes um sonho, espécie de pesadelo que dura o espaço de um minuto, e do qual despertamos para nos vermos rodeados de amigos que nos felicitam, ditosos por nos abraçarem. Essas palavras foram ditas pelo Espírito de Antônio Costeau.

Há grande diferença entre o desprendimento do desencarnante e o de um encarnado durante o desdobramento. Neste último caso, a matéria ainda oprime a alma, que não pode, desse modo, desembaraçar-se radicalmente. Já o Espírito desencarnado encontra-se livre e um vasto campo desconhecido se lhe depara, porque não existe nada que o prenda à matéria. Essa, a explicação dada pelo Doutor Vignal, que relata a Kardec, anos antes, as impressões do desdobramento por ele mencionado. (Obra citada, Segunda Parte, cap. II, Antônio Costeau, última mensagem, e Doutor Vignal.)

D. Há diferença entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus?

Sim; existe um abismo entre a honestidade perante os homens e a honestidade perante Deus. Entre os homens, é reputado honesto aquele que respeita as leis do seu país, que não prejudica o próximo ostensivamente, embora lhe arranque muitas vezes a felicidade e a honra, visto o código penal e a opinião pública não atingirem o culpado hipócrita.

Não basta, porém, para ser honesto perante Deus, ter respeitado as leis dos homens; é preciso antes de tudo não haver transgredido as leis divinas. Honesto aos olhos de Deus será aquele que, possuído de abnegação e amor, consagre a existência ao bem, ao progresso dos seus semelhantes; aquele que, animado de um zelo sem limites, for ativo na vida; ativo no cumprimento dos deveres materiais, ensinando e exemplificando aos outros o amor ao trabalho; ativo nas boas ações, sem esquecer a condição de servo ao qual o Senhor pedirá contas, um dia, do emprego do seu tempo; ativo finalmente na prática do amor de Deus e do próximo.

O homem honesto, perante Deus, deve evitar cuidadoso as palavras mordazes, veneno oculto sob flores, que destrói reputações e acabrunha o homem, muitas vezes cobrindo-o de ridículo. O homem honesto, segundo Deus, deve ter sempre cerrado o coração a quaisquer germens de orgulho, de inveja, de ambição; deve ser paciente e benévolo para com os que o agredirem; deve perdoar do fundo d´alma, sem esforços e sobretudo sem ostentação, a quem quer que o ofenda; deve, enfim, praticar o preceito conciso e grandioso que se resume "no amor de Deus sobre todas as coisas e do próximo como a si mesmo". (Obra citada, Segunda Parte, cap. III, José Bré, 2ª pergunta.)

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